6º Domingo do Tempo Comum Ano C
Por Máxemo de Jesus Santos
A Palavra de Deus que nos é proposta
neste domingo leva-nos a refletir sobre o protagonismo que Deus e as suas
propostas têm na nossa existência. A primeira leitura põe frente a frente a
auto-suficiência daqueles que prescindem de Deus e escolhem viver à margem das
suas propostas, com a atitude dos que escolhem confiar em Deus e entregar-se
nas suas mãos. O profeta Jeremias avisa que prescindir de Deus é percorrer um
caminho de morte e renunciar à felicidade e à vida plenas.
O Evangelho proclama “felizes” esses
que constroem a sua vida à luz dos valores propostos por Deus e infelizes os
que preferem o egoísmo, o orgulho e a auto-suficiência. Sugere que os
preferidos de Deus são os que vivem na simplicidade, na humildade e na
debilidade, mesmo que, à luz dos critérios do mundo, eles sejam desgraçados,
marginais, incapazes de fazer ouvir a sua voz diante do trono dos poderosos que
presidem aos destinos do mundo. A segunda leitura, falando da nossa
ressurreição – consequência da ressurreição de Cristo –, sugere que a nossa
vida não pode ser lida exclusivamente à luz dos critérios deste mundo: ela
atinge o seu sentido pleno e total quando, pela ressurreição, desabrocharmos
para o Homem Novo. Ora, isso só acontecerá se não nos conformarmos com a lógica
deste mundo, mas apontarmos a nossa existência para Deus e para a vida plena
que Ele tem para nós.
No evangelho de São Lucas inicia este
“discurso da planície” com quatro bem-aventuranças (que equivalem às nove de Mateus).
Os destinatários destas bem-aventuranças são os pobres, os que têm fome, os que
choram, os que são perseguidos. A palavra “Pobre” Lucas trás do Antigo
Testamento, definem uma classe de pessoas privadas de bens e à mercê da
prepotência e da violência dos ricos e dos poderosos. São os desprotegidos, os
explorados, os pequenos e sem voz, as vítimas da injustiça, que com frequência
são privados dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos
poderosos. Por isso, eles têm fome, choram, são perseguidos. Ora, serão eles,
precisamente, os primeiros destinatários da salvação de Deus. Porquê? Porque a
proposta libertadora de Deus é para uma classe social, em exclusivo? Não. Mas
porque eles estão numa situação intolerável de debilidade e Deus, na sua
bondade, quer derramar sobre eles a sua bondade, a sua misericórdia, a sua
salvação. Depois, a salvação de Deus dirige-se prioritariamente a estes porque
eles, na sua simplicidade, humildade, disponibilidade e despojamento, estão
mais abertos para acolher a proposta que Deus lhes faz em Jesus.
As bem-aventuranças manifestam, numa
outra linguagem, o que Jesus já havia dito no início da sua atividade na
sinagoga de Nazaré: Ele é enviado pelo Pai ao mundo, com a missão de libertar
os oprimidos. Aos pequenos, aos privados de direitos e de dignidade, aos
simples e humildes, Jesus diz que Deus os ama de uma forma especial e que quer
oferecer-lhes a vida e a liberdade plenas. Por isso eles são “bem-aventurados”.
Por fim, a liturgia nos mostrou, a não termos medo,
depois desta descoberta: podemos comprometer-nos na luta pela justiça e pela
paz, com a certeza de que a injustiça e a opressão não podem pôr fim à vida que
nos anima; e é na medida em que nos comprometemos com esse mundo novo e o
construímos com gestos concretos que estamos a anunciar a ressurreição plena do
mundo, dos homens e das coisas.
Homilia / Pároco da Paroquia Nossa Senhora de Guadalupe em Paço do Lumiar/ MA.
E-mail: maxemodejesus@Yahoo.com.br
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